quinta-feira, 13 de maio de 2010



No caminho…da serra.

Na mão direita um cajado, cansado pelo tempo, que seguro firmemente com o qual subo passo a passo esta serra que é minha.
Nas copas dos pinheiros ali mesmo à minha frente o dourado indica-me que a pinha virá em breve. Marco com o olhar os pinheiros mansos, poucos por estes lados, que mais tarde correrei na busca dos seus pinhões que escondidos serão arrancados um a um formando um colar que é moda por estes lados.
Faço uma pausa para que a minha mão entre no farnel e segure na garrafa de água da bica lá da fonte do Paço. Fresca escorrega lentamente pela minha sede e deixa-me com folgo para seguir. Não antes deixar-me olhar para um ninho ali mesmo há minha frente, de melro, num galho não muito distante lá esta ele com o seu fato de luto carregado que lhe obrigaram a vestir, deixando sobressair o seu bico amarelo a condizer com a flor do pinheiro.
Coloco-me novamente no trilho que me vai levar ao cume bem perto do céu azul que me entra pelos olhos dentro.
Nos meus ombros as marcas do peso do farnel, que será o meu repasto na pedra redonda que junto do pinheiro maior me espera sem pressas.
No meu passo compassado subo palmo a palmo esta caminhada que me propus a fazer pela beleza da paisagem e pelo encanto do encontro com a passarada aqui minha vizinha.
Os cheiros que ao longo do caminho entram nas minhas narinas trazem-me mil odores, alguns misturados de musgo, eucalipto que começa a fazer parte desta paisagem então tão bonita, pinheiro e amoras bravas.
Finalmente chego e o que vejo ao meu redor são os moinhos, outrora todos eles se moviam com o bater do vento e dos grãos amarelos que se transformavam em farinha na passagem da mó. Alguns nas pontas das velas, tinham cântaros de barro que no seu rodar emitiam sons de uma sinfonia alegre.
Outros tempos outras idades, ali estava eu de fronte para eles com um naco de pão com chouriço e água fresca e livre.
Olhava para lá da minha vista e dizia sempre: - Só gostava de ter esta terra toda.
Mas contentava-me com o que via e com tudo o que sentia nesta Liberdade de olhar.

4 comentários:

  1. ...Que minha solidão me sirva de companhia.
    que eu tenha a coragem de me enfrentar.
    que eu saiba ficar com o nada
    e mesmo assim me sentir
    como se estivesse plena de tudo.

    Clarice Lispector

    Bom Fds ... Beijos poéticos! M@ria

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  2. semeie flores... colherá o perfume. semeie carinho... colhera amizade. semeie sorrisos... colhera a alegria. semeie a verdade... colhera a confiança. semeie a vida... colhera milagres. semeie a fé... colhera certezas. semeie o amor... colhera a felicidade !

    Beijos perfumados e com muita poesia...M@ria

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  3. Acompanhei-o pelo caminho da serra. E todas as vezes que fiz e faço o caminho transbordo em emoções. Parece coisa do destino a nos fazer sentir mais do que nos cabe... Confesso-te que minha memória olfativa amanhece, diuturnamente, com o aroma dos eucaliptais da serra. Silvestre aroma das beiras do caminho sinuoso do Mondego. Certa madrugada de verão europeu, a alma saltava-me pela boca e a língua lambia o que os olhos não suportavam... Precisa dos abraços do vento e da confidente lua e sai sem destino, na tentativa de me encontrar ou me esconder... De Souzelas saí. Queria tempo, queria correr o mundo, mas no contra-senso queria estar e no contra-tempo me encontrei em Lorvão. A estrada? A encantadora, sedutora estrada ribeirinha. No rádio uma canção fazia do cenário um aconchego... Ali encontrei a paz que buscava. Aí ao pé de ti, aquele momento foi mágico, e se eu não acreditava em milagres, passei neles a acreditar. Essa história real de vida é longa. Vai do dramático ao cômico. Todavia este não é o lugar e já me excedi e por derradeiro te digo: O aroma do eucaliptal do meu, teu, nosso paraíso é indiscutivelmente sem igual...

    Pronto!!!! Estou assim transbordando em bem-querência . Alimento da alma, do espírito. Esse não se compra, nem se vende.

    Obrigada amigo por me permitir viajar contigo.
    Meu carinho, imenso carinho

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  4. Um poeta subiu ao céu. Foi iluminá-lo. Foi fazer amor com as estrelas e descansar, serenamente, os seus dias. Consigno minha reverência ao poeta, escritor, pensador José Saramago. O mundo está mais pobre, tolo e cego a partir de hoje...
    À ti poeta amigo, deixo meu carinho. Ah!continuo a sentir o aroma dos eucaliptais.

    Beijos

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